Artrópodes Fósseis

Nosso acervo de Artrópodes Fósseis
Introdução

As feições mais características dos artrópodes são a presença de um exoesqueleto rígido constituído de quitina (um polímero nitrogenoso resistente), comumente mineralizado por calcita, e apêndices pareados usados para diferentes funções: comer, andar, nadar, respirar etc. De fato, os artrópodes tomam o seu nome da presença desses apêndices articulados, que podem tornar-se especializados e variar em número, arranjo e morfologia.

Os artrópodes são, sem dúvida, os mais bem sucedidos e diversificados de todos os invertebrados. O seu exoesqueleto garante-lhes um grande potencial para fossilização, principalmente se for mineralizado. A presença de uma base rígida para fixação dos músculos faz com que muitos artrópodes tenham locomoção rápida e eficiente. A posse de mandíbulas especializadas constitui uma outra grande vantagem para o grupo.

Subfilo Trilobitomorpha

Constituem o grupo de artrópodes mais primitivos, representados desde o Cambriano até o final do Permiano. Foram inteiramente marinhos. São conhecidos mais de 1500 gêneros e milhares de espécies, principalmente em rochas cambrianas e ordovicianas. O nome Trilobita deriva da divisão longitudinal do corpo em três partes por meio de dois sulcos longitudinais. Assim sendo, cada segmento do tórax e do pigídio consta de um lobo axial e dois lobos pleurais. A parte dorsal da carapaça, de espessura maior, é mais freqüentemente conservada. A membrana ventral, mais fina, é mais raramente fossilizada. A cutícula (carapaça) dos trilobitas consiste predominantemente de agulhas microcristalinas de calcita magnesiana dispostas perpendicularmente à superfície, imersas em uma substância orgânica não determinada. Quitina ainda não foi identificada nos trilobitas.

O corpo dos trilobitas também é subdividido transversalmente em três partes (Fig. 7.1), claramente evidentes na carapaça dorsal:

  1. Região anterior: céfalo – placa única, formada pela fusionamento de segmentos, consistindo de uma glabela central; genas (ou faces) laterais, com (ou sem) suturas faciais; e olhos compostos (Fig. 7.3). É no céfalo que se encontram a boca (do lado ventral), esôfago, estômago. Trilobitas carnívoros possuem glabela muito proeminente.
  2. Região mediana: tórax segmentado – constituído de segmentos (somitos, escleritos ou tergitos) toráxicos articulados entre si.
  3. Região posterior: pigídio – placa única, formada pelo fusionamento dos segmentos finais.

Possuem apêndices, raramente preservados, que incluem um par de antenas e dois pares de apêndices birramosos no céfalo e um par de apêndices pareados birramosos, pouco diferenciados, em cada segmento torácico e do pigídio. Um ramo dos apêndices funciona para locomoção e a outra, para respiração.

O hábito de vida dos trilobitas variou de bentônico a pelágico, e até nectônico. No fundo do mar, o animal deslocava-se à procura de comida, mantendo-se sobre o substrato, ou enterrando-se nele. Assim, os trilobitas deixaram muitas marcas (icnofósseis) na superfície e dentro dos sedimentos, revelando-nos muito sobre seus hábitos e comportamento. A forma mais conhecida é chamada Cruziana, quecorresponde às marcas deixadas pela locomoção de trilobitas, na qual se distinguem, claramente, os traços deixados no sedimento pelas pernas (Figs. 7.4 e 7.5).

Como é comum entre os artrópodes, os trilobitas sofriam mudas (ecdise) durante seu crescimento, o que permitiu reconstituir os estágios ontogenéticos (protaspis, meraspis e holaspis) de muitas espécies.

Os trilobitas surgiram e tiveram seu apogeu no Cambriano, diminuindo gradativamente em abundância e diversidade até o Permiano, quando desapareceram. No Brasil, são conhecidos trilobitas em várias formações marinhas brasileiras do Devoniano e Carbonífero, nas bacias do Paraná, Parnaíba e Amazonas.

Figura 7.1. Morfologia geral dos trilobitas. A) Burmeisteria notica, espécime deformado do lado esquerdo, B) Paracalmonia sp., espécime extendido, C) Paracalmonia sp., espécime enrolado, em três vistas. Todos do Devoniano, Bacia do Paraná, Brasil (baseado em Clarke, 1912).

Figura 7.2. Baltoeurypterus tetragonophthalmus. Subclasse Eurypterida. Morfologia externa dorsal (A) e ventral (B) (Clarkson, 1994).

Figura 7.3. Erbenochile erbeni (Alberti). Devoniano, Marrocos. A) Vista posterior, ilustrando o curioso lobo palpebral nos olhos. B) Vista lateral. C) Vista dorsal. D) Vista lateral, luz incidente lateral. E) Vista lateral, luz incidente vertical. Observe como a luz incidindo dorsalmente é cortada pelo lobo palpebral. (Fortey & Chatterton, 2003, Science).

Figura 7.4. Icnofósseis atribuídos a trilobitas. (Clarkson, 1994). a) Pistas produzidas por trilobita “arador” (Cruziana). b,d) Marcas de descanso das coxas e marcas de tração deixadas pelos apêndices do trilobita ao sair do local. c,g) Trilobita descansando em escavação rasa (Rusophycus). e-f) Esquemas do movimento dos apêndices. h) Marca de tração de Limulus. j,k) Reconstituição do deslocamento lateral de(vista em transparência, por baixo em k).

Figura 7.5. Distribuição ambiental de fácies de icnofósseis. Observe que os icnofósseis preservados na zona litorânea (costeira) são perfurações e escava-ções de habitação e nas zonas sublitorânea, batial e abissal, traços de descanso, locomoção e de alimentação (pastagem, ingestão de sedimentos).

Figura 7.6- Gráfico do comprimento (length – L) versus largura (width – W) do céfalo em espécimes de uma única espécie de trilobita (Robison, 1987, p. 228)

Figura 7.7- Distribuição dos trilobitas do Grupo Hamilton, Devoniano de Nova Iorque, ao longo do gradiente de águas rasas até profundas.

Figura 7.8. Distribuição geológica de alguns dos principais grupos taxonômicos de artrópodes (Robison & Kaesler, 1987). A largura das colunas correspondem ao número relativo de gêneros fósseis conhecidos. Observe a escala do lado esquerdo.

Copiado integralmente com a autorização dos autores:

Anelli, L.E.; Leme, J.M.; Oliveira, P.E.; Fairchild, T,R. 2020. Paleontologia. Guia de aulas práticas, uma introdução ao estudo dos fósseis. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências, 8a ed., 104p.

*Todos os direitos do textos e figuras são reservados aos autores

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