Répteis Mesossaurídeos

Mesossaurídeos do Acervo
Introdução

Embora os dinossauros estejam entre os répteis mais populares e importantes, outros grupos de répteis têm uma história evolutiva igualmente interessante, não só do ponto de vista paleontológico, como também com relação às evidências que fornecem para a interpretação paleoambiental e paleogeográfica.

A. Parareptilia, Anapsida (amniotas sem orifícios atrás dos olhos): Mesosauridae, Procolophonidae, Millerettidae, Pareiasauria.

B. Synapsida (com 1 orifício abaixo dos ossos esquamosal e suborbital): Pelycosauria, Therapsida. Caseasauria, Eupelicosauria, Therapsida

C. Diapsida (com 2 orifícios de cada lado) Neodiapsida, Sauria, Lepidosauria, Archosauromorpha.

D. Parapsida (com orifício acima dos ossos pós-frontal e supratemporal). Ichthyosauria; e Euryapsida (com 1 orifício dos ossos esquamosal e suborbital): Protorosauria e Sauropterygia.

Figura 11.1. Crânios dos amniotas mostrando o padrão de abertura das fendas temporais. A. Condição Parareptilia, ilustrada por Paleothyris, um protorotirídeo, Carbonífero superior; B. Condição sinápsida, exemplificada por Haptodus, do Carbonífero superior; C. Condição diápsida, mostrada por Petrolacosauros; e D. Notossauro Neusticosaurus, ilustrando a condição parápsida ou euriápsida. Abreviaturas: d, dentário; f, frontal; ju, jugal; l, lacrimal; n, nasal; p, parietal; pm, pré-maxila; po, pós-orbital; prf, pré-frontal; pt, pterigóide; q, quadrado; sm, septomaxila; sq, squamosal (Carrol, 1988). oa parte da classificação dos répteis (Saurópsidos) baseia-se em características do crânio, em especial na presença e tipo dos orifícios temporais. Segundo estes critérios, os répteis podem ser agrupados da seguinte maneira (Figura 11.1):

A posição filogenética dos mesossaurídeos é ainda disputada entre diversos autores. Modesto (1994) quem mais estudou o crânio dos mesossaurídeos tem como proposta a inclusão destes esqueletos dentro dos Anapsidos (Figura 11.2). No entanto, a interpretação de outros autores incluindo Mesosauridae como Parareptilia, ainda parece prevalescer, (Gauthier et al., 1988)

O nome da ordem Mesosauria deriva do gênero Mesosaurus criado por Gervais em 1865 para fósseis da África austral. Outros representantes foram posteriormente identificados (Sterosternum Cope, 1885) e Brazilosaurus, no Brasil.

Figura 11.2 (copiado da apostila de 2010). Cladograma mostrando o relacionamento da Mesosauridae com outros amniotas (Gauthier et al, 1988).

Mesossaurus tenuidens apresenta características indicativas de que eram predadores aquáticos ou semi-aquáticos. Patas alongadas, uma cauda ampla, costelas densas e espessadas, narinas posteriores, dentes numerosos e finos, e mandíbulas alongadas. O pescoço longo e flexível o permitia vasculhar o ambiente em busca, provavelmente, de crustáceos, fósseis muito comumente encontrados associados aos seus esqueletos. Seus dentes são muito delicados para a coleta de presas maiores como, por exemplo, pequenos peixes.

Mesosaurídeos são os mais antigos amniotas a retornar à vida aquática cerca de 270 milhões de anos atrás, bem como o mais antigo amniota encontrado em rochas hoje no Hemisfério Sul. Suas afinidades filogenéticas são de difícil interpretação devido à falta de fósseis de seus ancestrais, prováveis animais terrestres que viviam em ambientes com baixo potencial de fossilização. Restos de seus esqueletos são encontrados aos milhares em rochas da Formação Irati, do Permiano da Bacia do Paraná.

Figura 11.3. Thrinaxodon, Sinápsido Therapsideo, Permiano

Figura 11.4. Mesosaurus, Parareptilia, Permiano

Mesossaurídeos ocorrem exclusivamente na África Austral (África do Sul e Namíbia) e Sudeste da América do Sul (Brasil, Uruguai e Paraguai) – (Figura 11.5).

Figura 11.5. Distribuição das fácies de águas profundas contendo Mesosaurus e facies costeiras contendo Stereosternum das formações Irati e Whitehill nas bacias do Paraná e Karoo. A conexão entre bacias do Paraná e Grande Karoo se dava por meio da região de Torres, RS (modificado de Oelofsen e Araujo, 1987).

Atualmente, as seguintes espécies são reconhecidas:

África Austral

Mesosaurus tenuidens

Stereosternum tumidum

Brasil

Mesosaurus tenuidens (= M. brasiliensis)

Stereosternum tumidum

Brasileosaurus sanpaulensis

Identificação de mesossaurídeos do Gondvana (Permiano) da América do Sul e África:

Stereosternum. – Comprimento da cabeça igual ao do pescoço; costelas e arcos hemais espessados; 34 ou 35 vértebras pré-sacrais (l2 cervicais, 22 ou 23 dorsais); dentes de comprimento médio, ovais em seção.

Brazilosaurus – Cabeça mais curta que o pescoço; costelas não espessados; arcos hemais espessados. 34 ou 35 vértebraspré-sacrais (15 cervicais, 19 ou 20 dorsais); dentes curtos, cônicos e ovais em seção.

Mesosaurus – Cabeça mais longa que pescoço; costelas fortemente espessadas, arcos hemais não espessados; 29 vértebras pré-sacrais (l2 cervicais e 17 dorsais); dentes compridos, circulares em seção.

Figura 11.6. Reconstrução hipotética do afloramento do Permiano superior na região de Santa Rosa do Viterbo (J. Lacerda, 2015).

Copiado integralmente com a autorização dos autores:

Anelli, L.E.; Leme, J.M.; Oliveira, P.E.; Fairchild, T,R. 2020. Paleontologia. Guia de aulas práticas, uma introdução ao estudo dos fósseis. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências, 8a ed., 104p.

*Todos os direitos do textos e figuras são reservados aos autores

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