Micropaleontologia

O exemplo dos foraminíferos fósseis

Amostras Macroscópicas de Foraminíferos
Introdução

A partir desta aula estudaremos fósseis representativos dos principais grupos de animais e plantas.Tendo em vista a limitação do tempo, exemplares de somente alguns dos grupos paleontologicamente importantes serão examinados em sala de aula. O estudo visa familiarizar o estudante com as características morfológicas fundamentais de cada grupo relevantes para a sua classificação, aspectos da sua paleobiologia, paleoecologia e história geológica e evolutiva. A aplicação prática dos fósseis para a solução de problemas paleoambientais, de datação e correlação das rochas sedimentares será também tratado. Outro aspecto que pode ser analisado refere-se aos processos tafonômicos envolvidos na preservação de cada grupo fóssil.

Foraminíferos: fósseis unicelulares

Os foraminíferos constituem um grupo de organismos unicelulares que vivem sobre o fundo do mar ou como parte do plâncton marinho, de água salobra, e uma espécie de água doce. O protoplasma da célula dos foraminíferos é em grande parte envolvida por uma carapaça ou testa composta de matéria orgânica secretada (tectina), minerais secretados (calcita, aragonita ou sílica) ou de partículas aglutinadas (grãos de areia, mica). Desse modo, testas de foraminíferos podem fossilizar-se, frequentemente, com preservação da composição e estruturas originais. A testa pode ser constituída de uma única câmara (unilocular) ou várias (plurilocular) interconectadas por um forâmen (abertura), feição essa que dá o nome ao grupo. O grupo é documentado desde o Cambriano.

Atualmente, depósitos de testas de foraminíferos podem constituir parte importante dos sedimentos marinhos (vasa de Globigerina, espessos depósitos constituídos pelo acúmulo de testas que revestem o fundo de certas regiões dos oceanos atuais). No passado, algumas rochas calcarias foram formadas predominantemente por testas de foraminíferos (calcários numulíticos ou com fusulinídeos). Tendo em vista sua grande diversificação e aumento de abundância, começando no final do Paleozoico, e o surgimento de formas planctônicas no Jurássico, foraminíferos são extremamente úteis como fósseis-guia para a datação e correlação de rochas sedimentares.

A distribuição geográfica dos foraminíferos é controlada por vários fatores ecológicos, o que os torna também importantes no estudo dos paleoambientes da Terra.

As testas de foraminíferos são extremamente variadas quanto à composição da parede, forma e organização. Com base nestas características, cinco subordens são reconhecidas na Ordem Foraminiferida, Classe rhizopoda, Filo Sarcodina (Protista). Apesar de serem na maioria pequenos (submilimétricos) e unicelulares, alguns foraminíferos podem atingir tamanhos consideráveis (até vários centímetros), como é o caso dos fusulinídeos e numulitídeos. Nesta aula prática, exemplares de foraminíferos de quatro subordens serão examinados para o reconhecimento de algumas de suas feições mais notáveis. Exemplares fósseis de grandes foraminíferos serão também examinados.

Classificação dos foraminíferos (segundo Brasier, 1985)
  • Reino Protista
    • Filo Sarcodina
      • Classe Rhizopoda
        • Ordem Foraminiferida
          • Subordem Allogromiina
          • Subordem Fusulinina
          • Subordem Textulariina
          • Subordem Miliolina
          • Subordem Rotaliina

Tabela 3.1. Subordens de foraminíferos disponíveis para estudo. Os números se referem às células (quadradinhos) na lâmina seca e os nomes científicos à designação taxonômica do(s) espécime(s) na respectiva célula.

Figura 3.1. Estrutura da parede da testa e aspectos morfológicos de alguns gêneros da Subordem Textulariina (Brasier, 1985).

Figura 3.2. Estrutura da parede da testa e aspectos morfológicos de alguns gêneros da Subordem Miliolina (Brasier, 1985).

Figura 3.3. Estrutura da parede da testa e aspectos morfológicos de alguns gêneros da Subordem Fusulinina (Brasier, 1985).

Figura 3.4. Estrutura da parede da testa e aspectos morfológicos de alguns gêneros da Subordem Rotaliina (Brasier, 1985).

Uso paleoecológico dos foraminíferos

O estudo da distribuição de microfaunas atuais de foraminíferos bentônicos e planctônicos verificou que diferentes ambientes sedimentares costeiros e marinhos podem ser caracterizados pelas diferentes associações de foraminíferos que contêm. Diversos parâmetros para a caracterização de ambientes sedimentares são úteis baseados na distribuição e proporção dos diferentes tipos de foraminíferos e também no estudo de rochas sedimentares marinhas cenozoicas e mesozoicas porque muitos foraminíferos têm distribuição geológica ampla.

O diagrama de Murray (Fig. 3.5) ilustra a distribuição de microfaunas em diferentes ambientes sedimentares, segundo a proporção entre espécimes das subordens Rotaliina/ Textulariina/ Miliolina.

Figura 3.5. Diagrama de Murray relacionando os foraminíferos aos ambientes de deposição.

Figura 3.6. Gráfico triangular utilizado para plotar as porcentagens de espécimes das três subordens no diagrama de Murray.

Razão entre planctônicos e bentônicos

Este parâmetro reflete a relação entre os dois grandes grupos de foraminíferos de acordo com o seu modo de vida. É expresso em porcentagens resultantes da contagem da fauna total de cada amostra, independente do reconhecimento das subordens. A quantidade de planctônicos (PL) cresce na razão direta da profundidade da água, ultrapassando 50% no talude continental. Por outro lado, a quantidade de bentônicos (B) é dominante sobre a plataforma, geralmente decrescendo, de maneira acentuada, a partir do talude superior, em direção à planície abissal.

Tabela 3.2. Modelo de porcentagem de planctônicos

% PlanctônicosProfundidade de deposição (m)Ambiente
0 – 200 – 70Plataforma interna a média
20 – 3060 – 120Plataforma média
30 – 50100 – 600Plataforma média a talude superior
50 – 60550 – 700Talude médio a inferior
60 – 70680 – 825Talude inferior
70 – 80700 – 1100
80 – 90900 – 1200
90 – 1001200 – 2000

Figura 3.7. Subdivisão e batimetria dos diferentes segmentos do assoalho marinho.

Copiado integralmente com a autorização dos autores:

Anelli, L.E.; Leme, J.M.; Oliveira, P.E.; Fairchild, T,R. 2020. Paleontologia. Guia de aulas práticas, uma introdução ao estudo dos fósseis. Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências, 8a ed., 104p.

*Todos os direitos do textos e figuras são reservados aos autores

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