Estratigrafia e Tempo Geológico

Quando observamos uma paisagem, é fácil imaginar serras e montanhas como eternas, imutáveis, já que esses cenários permanecem praticamente os mesmos desde os tempos humanos mais remotos. No entanto, esses cenários são transitórios na longa história evolutiva do nosso planeta. Foi James Hutton, em 1785, quem primeiro descreveu o ciclo geológico, de destruição e renovação da superfície terrestre, como resultado de processos naturais lentos e graduais. Considerando que as leis que governam a natureza terrestre são as mesmas desde o princípio dos tempos, James Hutton interpretou os registros geológicos muito antigos à luz das observações dos fenômenos que o cercavam. Ele estabeleceu o princípio do Uniformitarismo, concluindo que “o presente é a chave para o passado” na reconstrução do passado geológico.  

James Hutton percebeu que a Terra era muito antiga, em suas palavras “sem vestígio de um começo, sem perspectiva de um fim”. Ele é considerado o pai da geologia moderna por sua percepção da magnitude das forças naturais e da imensidão do tempo geológico perante o quão curta e recente é a história humana.

No século XVII o cientista dinamarquês Nicolau Steno já havia observado que camadas de sedimentos são depositadas originalmente na horizontal, se sobrepondo umas às outras, com a mais antiga na base, e que também apresentam continuidade lateral, estabelecendo assim os princípios fundamentais da Estratigrafia, denominados respectivamente de princípios da Horizontalidade, Sobreposição e Continuidade Lateral. A estratigrafia é definida basicamente como o estudo da sobreposição de camadas de rochas, no tempo e espaço, e sua correlação com os processos geológicos. 

Desde o século XVIII cientistas observam que camadas similares de rochas ao redor do mundo contém fósseis similares. Quando determinado fóssil apresenta ampla distribuição geográfica, e aparecimento em um curto intervalo de tempo geológico, esse é denominado de fóssilguia. Considerando os princípios da estratigrafia e a distribuição dos fósseis-guia se estabeleceu o método de datação relativa. Desse modo, a história geológica é interpretada com base na ordem das camadas de rochas e os tipos de fósseis presentes. 

O passado da Terra, seu tempo geológico, é divido pelos cientistas em intervalos de tempo separados por importantes eventos geológicos e biológicos, como mudanças no registro fossilífero das rochas ao redor do mundo. Os intervalos do tempo geológico mais longos (muitos milhões de anos) são denominados de Éons, que são subdivididos em Eras definidas por mudanças no registro fossilífero. O Éon mais antigo é o Hadeano (4,54 a 4 bilhões de anos atrás), onde não há registro de vida. A Era mais recente é o Cenozoico (65,5 milhões de anos atrás até o presente). As Eras são subdivididas em Períodos, que por sua vez são subdivididos em intervalos mais curtos denominados de Épocas. O Holoceno é a época mais recente, e corresponde aos últimos 11,7 mil anos de história da Terra. Foi no Holoceno que a população humana aumentou de pouco mais de 6 milhões para 6 bilhões (população atual).

Foi somente no final do século XIX, com a descoberta da radioatividade, que os cientistas puderam fornecer uma datação absoluta (radiométrica) medindo o decaimento radioativo de certos elementos químicos presentes nos minerais, nas rochas e nos fósseis. A datação absoluta fornece uma idade em números de anos para os diferentes intervalos do tempo geológico.

O tempo geológico, ou tempo profundo, descreve a ordem e a duração dos grandes eventos ocorridos na Terra nos últimos 4,54 bilhões de anos. 

A compreensão e a reconstrução do passado geológico da Terra é uma contribuição de longa data de cientistas naturalistas espalhados pelo globo, que observaram atentamente a paisagem a sua volta e evitaram as respostas fáceis. Eles são aqui representados pelas proeminentes figuras de Nicolau Steno e James Hutton.

Sobre os ombros desses gigantes, os cientistas atuais continuam contribuindo para reconstruir o passado geológico da Terra com uma maior precisão, possibilitada pelos avanços tecnológicos da humanidade. 

A versão oficial mais recente da Tabela do Tempo Geológico, suas divisões e idades, é frequentemente revisada pela comunidade científica, e pode ser observada no website da Comissão Internacional de Estratigrafia: https://stratigraphy.org/ICSchart/ChronostratChart2017-02BRPortuguese.pdf ou baixar em JPEG.

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