Tafonomia: o estudo de como se formam os fósseis

Por: Rafael Casati (IGc-USP)

Encontrar um fóssil em campo é, em grande parte, um golpe de sorte. Ainda que orientados por mapas geológicos e por pesquisas paleontológicas prévias em certa região, os paleontólogos precisam, muitas vezes, escavar pilhas e mais pilhas de rochas em busca do tão esperado tesouro.

Entretanto, o árduo trabalho nem sempre leva ao encontro de um belíssimo exemplar fóssil, como daqueles que vemos em museus – por mais que esse fosse o desejo dos paleontólogos. Geralmente os fósseis se encontram quebrados, incompletos e, às vezes, irreconhecíveis à primeira vista. Qual seria o motivo dos fósseis terem se preservado de diferentes maneiras? A resposta para essa pergunta procura ser respondida através do estudo dos processos de preservação dos fósseis, a Tafonomia.

 Questionamentos sobre a natureza dos fósseis são, possivelmente, tão antigos quanto à própria humanidade. Contudo, a definição do termo Tafonomia, que em grego significa “leis do sepultamento” e seu posicionamento científico remetem à 1940 com a publicação do artigo do russo Ivan Efremov. O cientista acreditava que havia “leis” que regiam a passagem do “mundo orgânico” para o “mundo rochoso”. Hoje sabemos que os processos de fossilização não são constantes ao longo do tempo e em toda a natureza e geram uma variedade imensa de tipos de fósseis.

A Tafonomia é dividida em duas subdivisões. A Bioestratinomia abrange o estudo dos eventos decorridos da morte de um organismo até o momento em que ele passa a sofrer as ações físicas e químicas que o levam à fossilização. Em outras palavras, compreendem, nessa fase, a maior parte dos eventos que levam à destruição dos esqueletos, conchas, carapaças, troncos, folhas e todo tipo de resto orgânico. Esses incluem a sua fragmentação, seja pelo transporte pela chuva ou por carniceiros, além do pisoteio por outros organismos; a necrólise dos tecidos moles e a desarticulação de seus restos esqueléticos, facilitada por condições de alta concentração de oxigênio e dificultada em ambientes anóxicos ou muito áridos; a incrustação por organismos que se valem de superfícies duras para se fixarem, entre outros.

Caso os restos sobrevivam ao período de residência na chamada “zona tafonomicamente ativa”, as condições químicas e físicas do ambiente de deposição passam a atuar, levando o resto orgânico à fossilização propriamente dita. A esta segunda subdivisão dáse o nome de Fossildiagênese ou Diagênese dos Fósseis. É nessa fase em que muitos vegetais perdem os compostos voláteis de seus tecidos, restando apenas um filme de carbono, processo de fossilização conhecido como incarbonização ou cabonificação; pode ocorrer também o preenchimento de estruturas porosas, como ossos e troncos, comumente por sílica, a chamada permineralização; conchas e demais estruturas formadas por câmaras são, por vezes, preenchidas por sedimento, dando origem a moldes internos; quando é a superfície externa que deixa sua marca preservada no sedimento, temos os moldes externos e; quando forma-se a réplica do fóssil, geralmente a partir da dissolução do esqueleto e preenchimento do espaço deixado por ele, temos o contramolde; também pode ocorrer a formação de concreções minerais em torno do corpo em fase inicial de decomposição, formando uma espécie de sarcófago que o protege da compactação das camadas sobrejacentes. Em casos mais raros há a preservação inclusive de tecido mole, como pele e órgãos. A chamada preservação total ocorre em condições ambientais específicas, isto é, em ambientes áridos, como mamutes, rinocerontes e outros grandes mamíferos preservados por criopreservação, ou preservação em locais muito frios; ou quando pequenos animais e vegetais são capturados pela resina fresca de uma árvore, fossilizando-se em uma inclusão em âmbar. Podem também serem preservadas estruturas vestigiais das atividades de um organismo, tais como pegadas, túneis, galerias, cascas de ovos, fezes, os chamados icnofósseis.

Desse modo, existem diversos processos naturais que levam à diferentes tipos de fósseis e, seu estudo, leva ao entendimento dos processos causadores, tal qual faz um perito criminal ao analisar a cena de um crime.

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